terça-feira, janeiro 21

Até já

-Shhhhh!
Com a boca dividida pelo dedo erguido, fez o ar gemer por entre os lábios ordenando silêncio.

Era noite já. A lua aprontava-se para começar a descer até ao horizonte. A noite estava fria, na rua sentia-se o cheiro intenso dos fumos das lareiras e apenas estas pareciam dar sinais de estarem despertas. Algumas chaminés estavam já extintas e, enquanto outras estavam bem vivas, havia ainda aquelas que, como alguém que tosse, libertavam golfadas de fumo para o céu preto.

Ali no cruzamento das ruas, enquanto a calava segurava a perna erguida que tremia da posição. Pensavam que não havia melhor maneira de finalizar a viagem senão ali, no cerne da escuridão. 
Tinha o meio das pernas quentes. Uma sensação calorosa e doce do acto que praticavam. O sexo dele hirto contra o abdómen dela. Não julgavam pecado nesse gesto. 
- O que é que estamos a fazer?
A resposta imediata dele era o riso. Parou por segundos para reparar na cara suada dela, e depois demorou-se no olhar. Demorou-se nas recordações e no julgamento de outrora. Queria dizer-lhe finalmente que a amava, que talvez a mulher fosse demais para ele.
 Seria homem para isso? Ria-se. Rira-se para provar que a admirava ou para mostrar que o brilho da Lua, que perscrutavam, competia com o seu olhar.
- A despedirmo-nos.

Continuou a segurá-la.
Ao fundo, quem passasse pelo beco, ainda cheirava o fumo aquecido das lareiras, e ouvia o riso miudinho de dois corpos esmagados de sexo contra uma parede suja de um quarteirão. 
O ano acabava.
Para eles e para todos os outros, o ano acabava, mas, para o amor nutrido por ambos, para os sonhos e fantasias eram apenas um
Até já!


Mariana & Ricardo Cunha

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