domingo, outubro 19

Talvez sem título

O silêncio abatia-se agora que tudo estava acabado.
Ele desviava-lhe o cabelo colocando-lhe a mão no rosto, tocando de leve com a ponta dos dedos o ouvido.
- Calma. Acalma-te pequena.
Ela tremia, não de medo, mas ainda com a adrenalina que lhe restava. Ele, calmamente, agarrou-lhe a mão tirando-lhe a faca suja; toda esta calma dele não era em vão afinal, esta não era a sua primeira vez, já para ela a historia era outra. Tapando a mão com a camisola que vestia alcançou a cara e ela, mecanicamente, fechou os olhos como se adivinhasse o que ele ia fazer a seguir; devagar e com cuidado ele limpou as gotas de sangue que tinham restado na cara dela.
Tudo isto era nova para ambos: para ela por ser a primeira vez que matava alguém; para ele por matar alguém com companhia e dividir esse prazer. Foi estranho, no início, para ambos mas, como partilhavam essa necessidade e fantasia, acabaram por ceder ao prazer. Mas tudo isto resumia-se a coisas maiores que o prazer: para ela era a entrada para um mundo desejado na companhia de quem gostava e para ele era um sinal de entrega completa, uma espécie de "amo-te" especial, banhado a sangue.

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