sábado, janeiro 31

Jogamos?

Nenhum sabia o que seria pior.
Ambos escreviam e rasgavam; ambos permaneciam em silêncio dia após dia; 
trocavam apenas olhares e nunca nada de muito demorado, era tudo fugaz ao contrário das noites que passavam em claro.
Ansiavam, nos lados opostos, os dias que podiam passar juntos. Mas eram apenas ânsias por materializar, era tudo apenas querer. Querer que não se concretizava em acções e eram reduzidas a insónias de parte a parte. Podiam não ter o dia juntos mas, sem saberem, partilhavam a noite, ainda que separados, a olhar para o mesmo, a pensarem no mesmo; a quererem incessantemente o mesmo.
A rotina da noite era alternada:
Hoje escrevia ela, amanhã ele.
Hoje murmurava ele, amanhã ela.
Provavelmente nunca acertariam nas palavras, ou nas ocasiões, mas, sem dúvida, acertavam no sentimento.
Nenhum sabia o outro lado, nenhum conhecia o outro lado.
Nenhum tentara, uma única vez, de forma inconsciente, o outro. Era tudo consciente. Tudo visível, mas nunca aos olhos dos outros. Talvez fossem felizes assim, a jogar ao “gato e ao rato”; a quererem-se em silêncio e a fugirem de provocações a que queriam ceder.
Nunca iriam estar juntos, pelo menos hoje.
E, sem saber, por uma vez acertaram também nas palavras; retorquiam juntos dentro das suas cabeças:
- Habituei-me a isto. Agora?! Atura-me.

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