quinta-feira, maio 7

1:15

E começa assim, uma e um quarto.
Sim, porque a vida dela resumia-se a isso: a ela e a um quarto; às vezes só com ela, outras vezes com alguém em cima dela; ou, ainda, outras, com ela em cima de alguém.
Ela teve de se tornar nisto. Já que a vida não quis ser a puta dela, virou ela puta de vida.
Os cheiros, em dias bons, eram agradáveis, parecia tudo limpo; em dias ruins, tipo o de ontem, o quarto tresandava a fumo, os lençóis ao bom perfume de homem - o cheiro a cavalo - e o dinheiro a mofo de estar acumulado em cima da cómoda.
Para ela o sexo era quase tão nojento como o cheiro de algumas bocas que por ali passavam, umas tresandavam a álcool, outras a desespero. Mas, o que lhe interessava era o dinheiro e não a canzana em si.
O dinheiro era pouco, mas chegava-lhe; já o prazer nem sequer tocava de leve os limites mínimos do esperado, exigido ou pretendido previamente. Mas, mais uma vez, era o dinheiro que interessava.
Podiam falar dela, saber dela, foder com ela, fazer o que com ela quisessem, desde que pagassem... era tudo rosas naquela vida.
Ela era só; era só uma e um quarto.
Ela era puta; por necessidade.


-Mas, afinal, em tudo o que anda à nossa volta, não haverá putas?
E, mais, talvez, até vós, em algum momento, sereis putas porque a necessidade assim o pedira. Por isso não me julguem.
Fodam-me.
E paguem-me.

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